Opinião
Por que fazemos o que fazemos?
Por Eduardo Caputo
Pesquisador associado - Universidade Brown, EUA
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Todos nós, em algum momento da vida, já paramos pra pensar que acordamos cedo, saímos para trabalhar, voltamos para casa e o "dia não passou e nada aconteceu". Que passamos as nossas horas acordados em "filas de supermercados, bancos e repartições, que repartem a nossa vida". Se essas frases não são estranhas pra você, talvez seja porque você conhece a canção clássica do Biquíni Cavadão, intitulada "Janaína", que diz muito sobre nossas vidas no dia a dia. Por vezes, a rotina nos consome de uma forma que fica difícil escapar de suas nuances. Mas, apesar da rotina corrida, assim como Janaína, temos sonhos e queremos ser felizes.
Nenhuma rotina de trabalho é maravilhosa e, claro, nenhum trabalho é perfeito. Aliás, nada nessa vida é perfeito. Muitas pessoas passam a vida toda reclamando do seu trabalho. Alguns trabalham mais do que o desejado, ou mais do que o necessário. Para alguns, esse cenário tem sentido, pois se reflete na busca pela carreira desejada, para outros reflete sua necessidade, e assim por diante. Não é objetivo dessa coluna julgar as escolhas de cada um. Afinal, de qualquer forma, caímos sempre na mesma questão onde "cada escolha, uma renúncia", como diria outra canção clássica do rock nacional. Ao optarmos por viver em outro país, trabalhar dez horas por dia ou acordar todo dia às cinco da manhã, renunciamos a algo. E, obviamente, não há erro ou culpa nisso. Faz parte do processo individual de escolhas, decisões, necessidades e contexto de cada um.
Certa vez entrei na cozinha do prédio onde trabalho, aqui na Universidade, para pegar um café raiz estadunidense. Em geral, a dose de café é "bem servida", por aqui. Um pouco diferente do nosso "cafezinho", eu diria. Muitas empresas têm máquinas e basta você levar sua caneca, como em qualquer lugar. Ou você pode comprar e andar na rua, como nos filmes, com aqueles copos com tampinhas branca para manter o café aquecido. Enfim, retornando à cozinha, adentrei e me deparei com dois trabalhadores da Universidade, ambos com muito mais "experiência" que eu, conversando sobre a vida. Um deles, ao ser questionado pelo amigo o porquê de ter se aposentado e retornado a trabalhar, respondeu: "Não tinha muito o que fazer em casa. Ia ficar fazendo o que? Sentado o dia todo assistindo Netflix?". Eventualmente, ainda me pego refletindo essa situação. Passamos boa parte da vida pensando em nos aposentar, e quando conseguimos, talvez não fosse exatamente aquilo que buscávamos.
A verdade é que despendemos quase todo nosso tempo em uma eterna busca por equilíbrio. Tentamos, sempre que possível, manter todas as partes da nossa vida equilibradas na balança, evitando desníveis. Ao exagerar em um dos lados, muitas vezes sofremos as consequências no outro. As obrigações e deveres não devem ultrapassar a busca pelo prazer, o descanso, o lazer, o tempo com os nossos, etc. E, com essa busca incessante pelo equilíbrio, tentamos ir na contramão de Janaína, ver o dia passar e as coisas acontecerem.
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